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Narrador: Muitas atividades humanas nos são dadas naturalmente. Coisas como respirar, beber, comer. Já outras atividades nós aprendemos, tais como: andar, conversar e dançar. Mas e a morte? Ocorre naturalmente ou a morrer?
Vários séculos atrás, quando a Peste Bubônica estava começando, foi publicado um texto que oferecia conselhos sobre como se preparar para uma boa morte. Escrito na Idade Média, o Ars moriendi -ou A Arte de Morrer- deixou claro que para morrer bem é preciso primeiro viver bem. Ninguém sabe ao certo quem foi o autor deste manual da morte. Numa época em que a morte batia à porta de todos, este manual oferecia um mapa para enfrentar a morte e até para vivenciar uma ‘boa’ morte.
A Arte de Morrer explica que a morte não é algo a temer. Em seguida, lista as tentações que ocorrem durante as últimas horas de vida. Uma pessoa que está morrendo enfrenta falta de fé, desespero, impaciência, orgulho espiritual e ganância.
Então, este pequeno livro responde a perguntas a serem feitas antes de morrer, maneiras de confortar uma pessoa e as maneiras certas para amigos e familiares se comportarem em torno de alguém que está morrendo.
A Dra. L. S. Dougdale, especialista em ética médica, leu o Ars Moriendi e concluiu que o manual é cheio de sabedoria mesmo para os nossos dias. Ela considerou que há muitas pessoas que morrem despreparadas, pois nossa sociedade modificou o significado e as tradições relacionadas à morte.
Hannah: Olá, meu nome é Hannah e sou uma escritora profissional de obituários. O obituário tenta contar ou capturar a história de vida de uma pessoa de forma interessante e memorável, quando ela já se foi.
Acho que uma das coisas mais fortes que aprendi é que, no fundo, quando alguém morre, a única coisa que fica para trás é o amor. Tudo o mais, tudo o que aconteceu em nossas vidas, como os conflitos que tivemos com outras pessoas, tudo isso deixa de ter importância. E o amor é realmente a única coisa que resta e o que as pessoas querem lembrar.
Narrador: Preferimos não pensar na morte, mas todos gostaríamos de morrer “bem” ou “feliz”. A Dra. Dugdale acredita que os princípios da Ars Moriendi ainda são válidos para conseguir isso.
Uma prática que pode nos ajudar a nos preparar para uma morte melhor é a antiga frase do latim “memento mori”, que em português significa “lembre-se de sua morte”. Possui raízes na filosofia antiga e no cristianismo. A frase implica que devemos viver cada dia conscientes de que um dia morreremos. Essa reflexão intencional sobre a morte e seu significado para nossas vidas nos ajuda a viver de uma maneira que nos prepare para uma boa morte.
Hannah: Uma coisa que eu posso dizer é que a preparação é fundamental. Acredito que muitas pessoas não se preparam para o momento da morte ou simplesmente não pensam em sua própria mortalidade natural. E acho que se preparar bem, para não deixar pendências ou deveres para a família, é muito importante. Trabalhei com tantas famílias, realmente vejo o quanto elas apreciam quando alguém toma a iniciativa de antecipar e preparar o caminho para sua própria morte.
Narrador: Para alguns, ter uma boa morte pode significar não sofrer, ou poder dizer adeus à família ou amigos. Também é necessário, segundo a Dra. Dugdale, dar sentido à nossa finitude, enfrentando bravamente nosso medo de morrer.
Hannah: Sou uma pessoa profundamente espiritual. Então eu acredito que há um propósito na morte e algo segue depois, eu também acredito que o amor deve estar em primeiro plano. Porque, novamente, é disso que as pessoas vão se lembrar.
Narrador: Como a Dra. Dugdale e Ars Moriendi propõem: “A arte de morrer bem começa com a arte de viver bem.” E todos devemos saber viver para saber morrer.